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Mais Forte do que Nunca

Há algum tempo, eu estava decidido a falar sobre um livro que tratava sobre como contar histórias sempre foi importante para a vida do ser humano, se destacando nas empresas como ferramenta de motivação e publicidade, além de ser uma ferramenta primordial para se educar e disseminar conhecimento através dos séculos em todas as culturas. No entanto, por sincronicidade da vida, este livro veio parar nas minhas mãos e, por tratar de histórias de desenvolvimento pessoal e superação, senti de compartilhar com vocês algumas das reflexões expostas pela pesquisadora Brené Brown e que tem muito a ver com o momento histórico que estamos passando.

“Somos criadores natos. É através das mãos que levamos da cabeça para o coração aquilo que aprendemos.”

Brené Brown

Podemos dizer que somos os seres mais criativos da face da terra e é por esse motivo que nos tornamos tão ansiosos ou depressivos, pois criamos as histórias nas nossas mentes em vez de vivermos apenas a realidade. Por este motivo que, muitas vezes, perdemos o controle em algumas situações, como num momento de pandemia mundial: não temos a menor ideia de como a história irá acabar, então nossa mente fica desesperada à procura de uma conclusão, perdemos a presença e ficamos confusos sem saber que caminho seguir. Mas, segundo a própria autora, são nestes momentos de maior vulnerabilidade que temos a oportunidade de darmos a volta por cima, tirando as lições necessárias para superarmos nossos limites e sermos mais fortes.

As reflexões se iniciaram através da curiosidade da autora pela forma como a Pixar cria suas histórias, que são baseadas no livro “A jornada do Herói” de Joseph Campbell e que têm basicamente 3 atos:

Ato 1: O protagonista recebe o chamado à aventura e o aceita. As regras do mundo são estabelecidas e o final do ato 1 é o “incidente incitador”
Ato 2: O protagonista procura todas as maneiras confortáveis de solucionar o problema. No clímax, aprende o que será realmente preciso para resolvê-lo. Esse ato inclui “o fundo do poço”
Ato 3: O protagonista precisa provar que aprendeu a lição, em geral parecendo disposto a demonstrá-lo a qualquer preço. Este ato é sobre redenção – um personagem esclarecido, que sabe o que fazer para solucionar um conflito.

Esses três atos são também partes do que compõem nossas histórias de vida e são estas histórias que fazem sermos quem somos. Nossas histórias nos definem de uma forma ou de outra, e a forma de nos tornarmos mais plenos é através da integração de todas as nossas experiências, inclusive as quedas. É necessário coragem para assumirmos nossas histórias e não passarmos a vida sendo definidos por elas ou as rejeitando.

A não aceitação de nossas histórias, acabam nos trazendo muita falta de presença, nos traz aquele vazio que muitas vezes nos remete a algum vício, uma anestesia da realidade, enquanto na verdade estamos com uma oportunidade de analisar o que estamos sentindo, uma oportunidade de podemos nos aprofundarmos em nós mesmos para reconhecermos a história que estamos criando em nossas cabeças e crescermos como seres humanos.

A autora fala da importância de criarmos cartas para registrarmos nossos sentimentos, o que nos permite fazermos um reconhecimento do que estamos sentindo, mas também precisamos ter a curiosidade para nos aprofundarmos no por quê estamos sentindo o que estamos sentindo.

Eu admito que muitas vezes é difícil enfrentarmos o que estamos sentindo de frente, é muito mais fácil procurarmos outras formas de lidarmos com as angústias, mas eu também acredito que ignorar nossos sentimentos pode causar muito mais sofrimento no futuro, acabamos explodindo com as pessoas que amamos simplesmente porque não conseguimos lidar com o chefe que ficava enchendo o saco no serviço ou acabamos descontando todo o nosso estresse na comida o que nos deixa mais deprimidos e com uma baixa auto-estima.

A autora nos propõe as seguintes perguntas :
[RECONHECIMENTO – ENTRAR EM CONTATO COM OS SENTIMENTOS]
1- Eu me sinto _____ (decepcionado, arrependido, furioso, magoado, irritado, com o coração partido, confuso, amedrontado, preocupado, etc)
2- Estou_____ (com muita dor, me sentindo muito vulnerável, passando por uma tempestade de vergonha, constrangido, esgotado, num mundo de mágoas).

[CURIOSIDADE SOBRE A HISTÓRIA POR TRÁS DOS SENTIMENTOS]
1 – O que mais preciso aprender e entender sobre a situação? O que sei em termos objetivos? Que suposições estou fazendo?
2 – O que mais preciso aprender e entender sobre as pessoas da história? De que informações adicionais preciso? Que perguntas ou esclarecimentos poderiam ajudar?
3 – O que mais preciso aprender e entender sobre mim mesmo? O que está por trás da minha reação? O que estou sentindo de verdade? Qual o meu papel nisso?

Com a quarentena tive a oportunidade de colocar muito da teoria do livro em prática, pois não tinha muita escolha a não ser analisar os sentimentos de raiva e impaciência que sinto quando minha mãe fala sem parar, quando meu pai começa a repetir frases padronizadas ou quando minha irmã começa a ter um ataque de ansiedade e começa a xingar todo mundo. Pude perceber que muitas das características que percebo na minha família são características que repito com os outros também. Percebo que quanto mais eu acolho os sentimentos que estou sentindo, cada vez que compreendo melhor minha própria família, minha própria história começo a me sentir muito mais tranquilo.

Quando decidimos reconhecer nossa própria história e viver segundo a nossa verdade, levamos nossa luz às trevas.

Brené Brown

Acredito que todos nós estamos em um segundo ato em nossas histórias e também quero acreditar que todos nós somos capazes de tirarmos nossas lições de cada momento que estamos vivendo. O livro nos permite ver as vulnerabilidades e as tratarmos de forma compassiva e não de forma prepotente. Somos capazes de vermos as crises e encararmos de forma transparente, reconhecendo nossas fraquezas e nossas dores.

Espero que todos possam ler este livro, que todos possam criar seus momentos de escrita para reconhecerem seus sentimentos e reconhecer as histórias que estão criando em suas mentes. Desejo de coração que todos nós possamos passar por cada ato de nossa história de forma consciente, plena, integra. Que possamos todos encontrar a força na vulnerabilidade, que possamos ter paciência, que possamos agir com reflexão, que possamos ter esperança e compassividade não somente num período de quarentena, mas que possamos sempre ter a capacidade de darmos a volta por cima e nos tornarmos mais fortes do que nunca.

Pedro Cruz.